quinta-feira, 27 de março de 2014

Vozes descontextualizadas

Como pode o som estar tão longe quando a voz é minha?
Como pode fraco espírito estar tão forte assim?
Como continua a minha razão a ceder a tão carinhosos olhos de um garoto apaixonado?
Quão pecaminoso será o caminho a percorrer desde o que tenho e o que realmente quero?
Não aguento. Não engulo taxas tão elevadas que já nem a minha alma consegue pagar.
Toda a gente perde a voz, toda a gente ouve demasiado.
As sereias já não cantam, são encantadas com angelicais vozes em melodiosas serenatas tocadas junto ao rio contrariado. As forças militares já não aguentam o forte e desmoronam-se com filosofias de promessas celestiais.  E eu, sem música voz ou canto, ouço imparavelmente o que os meus ouvidos parecem não reconhecer: uma voz desconhecida.
Tanto te devo a minha vida como logo a seguir penso que a única forma de realmente ter uma é não te tendo. E por isso não te quero, porque um dia te quis demais e uma vez por outra te vou querendo.
Agradece então aos teus pais. Agradece a quem te fez e te criou. Agradece por algures perdido no campo teres sido a perfeição em forma humana.
De todas as vezes que partiste sem nota, nenhuma me levaste. Vais-me matando com a distância fria que fica sempre que me abandonas ou sempre que não te alcanço. Como podes estar tu tão longe quando tu és eu? Ou eu sou tu. Ou somos os dois um do outro, sem realmente sabermos quem somos.
As nossas vozes fundem-se e um dueto soa, nunca estivemos realmente no nosso tom.

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